opinião

Por todas e todos nós...



Nenhuma forma de violência deveria nos ser estranha, sobretudo aquela praticada por e contra agentes de Estado. A endemia de mortes violentas enluta nossas famílias, obstaculiza nosso desenvolvimento humano e nos envergonha como nação. 

Júlio César de Melo Pinto, 30 anos, operário negro, executado em Porto Alegre pela Brigada Militar nos anos 1980. O assassinato de Júlio César transformou-se em um documentário (O Caso do Homem Errado), da diretora Camila de Moraes, recentemente lançado no circuito comercial. Júlio César, presente!

61.283 pessoas mortas de forma violenta no Brasil somente no ano de 2016, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em sua maioria jovens, pobres e negros. Na mesma linha, a Anistia Internacional, somente no ano de 2012, 82 jovens, 77% negros, são assassinados diariamente!

Marco Jonathan, 17 anos, dançarino e Mestre de Cerimônias (MC); Matheus Baraúna, 16 anos, integrante do grupo Nação Hip Hop e participante de projetos sociais; Matheus Bittencourt, 18 anos, DJ e integrante da roda cultural Darcy Ribeiro; Patrick da Silva, idade não divulgada, também ativista da cultura hip hop; Sávio Oliveira, 20 anos, compositor, produtor e MC. Todos foram mortos em uma chacina em Maricá, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, atribuída, conforme a Divisão de Homicídios, a uma ação de milicianos. Marco, Matheus Baraúna, Matheus Bittencourt, Patrick e Sávio, presentes!

Os 14 mortos por um grupo de homens armados com coletes táticos, fuzis, pistolas e balaclavas no Bairro de Cajazeiras, área pobre da periferia de Fortaleza, no Ceará, maior chacina da história desse Estado! Antônio Xavier (31), Antônio Oliveira (55), Brenda (19), Edneusa (38), José (21), Luana (22), Maíra (15), Maria (17), Mariza (37), Natanael (25), Raimundo (48), Raquel (22), Renata (32) e Wesley (24), presentes!

393 policiais restaram mortos no ano de 2015, segundo o FBSP, sem computar o número de policiais aposentados ou reformados. Mais de um policial morto por dia no Brasil!

Rodrigo Wilsen da Silveira, de 39 anos, policial civil gaúcho, morreu ao ser baleado na cabeça, na cidade de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, em cumprimento a um mandado judicial. Rodrigo, presente! Elton Martins Bangell, 52 anos, policial civil aposentado, morto a tiros em frente à sua mulher e ao seu filho, durante um assalto em Porto Alegre. Elton, presente! Rodrigo Viegas, 33 anos, policial militar do 25º Batalhão de Polícia Militar, em São Leopoldo, assassinado dentro de um estabelecimento comercial. Viegas, presente! Caroline Plescht, 32 anos, policial militar de Santa Catarina, brutalmente assassinada em uma tentativa de assalto na cidade de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte. Caroline, presente!

A garantia dos direitos individuais e coletivos é a razão de existir das polícias, assim como de todos os demais órgãos de segurança pública e justiça criminal. O contrário disso é a barbárie!

Marielle Franco, 38 anos, militante dos direitos humanos, quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro, e Anderson Gomes, 39 anos, motorista, barbaramente executados. Mais de duas semanas se passaram sem a identificação dos autores. Marielle e Anderson, presentes!

Portanto, não haverá direito à segurança, diferentemente do que advogam o senso comum das ruas e parcela do saber técnico e acadêmico tido como ilustrado, sem a segurança dos direitos humanos.

Por essa razão, precisamos diminuir as distâncias que separam as juventudes das polícias (e vice-versa), a segurança dos direitos, a técnica da política. Por todas e todos nós urge repensarmos a famigerada guerra às drogas e a cultura punitiva que nos aprisiona no discurso fácil do eficientismo penal, da criminalização e da policialização dos conflitos interpessoais e sociais, bem como do mais do mesmo em matéria de segurança e justiça, de leis mais duras e mais encarceramento. Por todas e todos nós... Basta!

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